...o breu desgraçado! Mal conseguia distinguir
o asfalto do acostamento. Era uma noite de céu encoberto. Deveria estar com
medo mas como dizem, o que não se vê não se sente.
Lembrei de meu avô dizendo “só bestas como
você para acreditar em coisas que só os olhos vêem”. Senti sua presença ao meu
lado, “devia dar ouvidos ao seu coração.”
De imediato meu coração disparou, um frio
súbito subiu minha espinha. Algo de muito ruim estava para acontecer, não sabia
o quê, algo de muito perigoso. Parei no meio da estrada e tentei ver o que
poderia ser.
Nada.
Escutar?
Somente os grilos e vento batendo no mato.
Cheiro?
O perfume do ar da noite.
Mas meu coração saltava avisando que tinha
problemas chegando, “maldito carro quebrado! Merda!”
Meu avô de novo, “é melhor se acalmar pra pelo
menos não mijar nas calças, o resto deixa que seu coração resolva.”
Desatei a correr, pude perceber uma árvore bem
copada na beira do acostamento.
Subi.
Achei uns galhos que me deixariam bem
escondido e até confortável.
Algum tempo depois percebi um barulho de motor
se aproximando. Era um carro de faróis apagados e uma lanterna vasculhava o
acostamento.
Pararam perto da árvore, pude ouvi-los:
“Será que o desgraçado conseguiu fugir?”
“Vamo dá uns tiros no mato só pra ter certeza.”
“Não. O cara conseguiu fugir. O santo dele
foi mais forte. Não tem jeito.”
Foram embora.
Fiquei tão apavorado que adormeci agarrado aos
galhos.
Sonhei com meu avô, dizia que estava se
esforçando para que nada de mal me acontecesse, mas que deveria lembrar das
coisas que ele me ensinou.
“Que coisas?”. Perguntei.
“Aquelas que te permitiram sobreviver a este contratempo.”
Acordei com um cocô de passarinho escorrendo
no meu rosto. Nem percebi o sol nascer, mas estava com uma estranha tonalidade.
Dizem que quando se tem contato com os espíritos o dia seguinte fica de uma cor
diferente.
Fui pra casa.
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