A
historia final, ou a real interpretação.
O
caos se instalou.
Foi
tanta roubalheira que nem eles aguentaram.
O
castelo de cartas caiu, ruiu. E foi um deus nos acuda.
Os
que puderam fugir, fugiram.
Os
que não puderam, foram consumidos pela raiva de um povo desesperançoso e
raivoso.
Alguns
morreram. Outros, foram para cadeia.
Mas
os principais, os chefões, simplesmente conseguiram fugir. Desapareceram e
nunca foram encontrados.
Os
anos se passaram e as buscas ainda continuavam, mas a cada dia que passava, as
autoridades ficavam mais e mais céticas em prendê-los.
Com
identidades falsas, alguns com mudanças na própria face, refizeram a vida.
Nada
comparada com aquela ostentação e pujança.
Algo
mais simples e mais verdadeiro.
Cena
1 ato
Um
camarim de teatro, um homem vestido de palhaço espera o maquiador sentando em
frente ao espelho, cheio de velhas fotografias.
Consulta
o relógio no celular antigo. O espetáculo esta prestes a começar.
A
porta se abra e entra uma figura esguia com trejeitos afeminados.
“Olá!
Eu sou o novo maquiador. Desculpe o atraso. Não conheço direito o teatro e me
perdi”.
O
homem o olhou com reprovação.
“Não
se preocupe, eu sou bom e já maquiei bastante palhaços por aí. Conheço
profundamente as técnicas de maquiagem do Clown.”
“Tudo
bem mas seja rápido que o espetáculo esta prestes a começar e a casa esta
cheia!”
O
maquiador abriu seu estojo. Olhou profundamente no homem e começou seu trabalho.
“Você
tem um rosto familiar. Sou bom fisionomista. Acho que o reconheço de algum
lugar.”
“Você
deve ter me visto pelos circos da vida. Sabe que eu sou famoso neste meio.”
“Não.
Eu sou bom fisionomista. Você me lembra muito o ex presidente Lula. Se você
estivesse de barba seria o próprio.”
“É.
Já me confundiram algumas vezes. Mas eu não gosto. O Lula me ferrou de verde e
amarelo.”
“Sabe
que eu votei nele várias vezes.”
“E
você não se arrepende?"
“Sim.
Amargamente.”
O
maquiador para de repente, coloca as mãos na boca perplexo.
“Você
é o Lula!”
(Gargalhadas)
“Se eu sou o Lula, porque eu estaria aqui neste circo de quinta
categoria?"
“Eu
sou maquiador e sei que esse dedo mindinho é falso. Mas tudo bem. Não precisa
se preocupar. Mas como é que você veio parar aqui?"
Não
tinha como evitar. O maquiador havia descoberto.
“Bom,
eu sempre quis ser palhaço, desde criança, quando uma tia minha fugiu com o
palhaço de um circo lá na Paraíba. Aí, na época do Mensalão, as coisas
começaram a dar errado, fui rezar pra São Cristovam que é meu santo.”
“Mas
o pessoal do partido nunca achou ruim de você ficar rezando?"
“Eu
rezava escondido. Todo nordestino tem um santo. Não podia negar isso.
Quando
eu saí da capela do Palácio a Marisa estava assistindo um show do Cirque de
Soleil na TV. Lembrei da Tia e de quando criança gostava dos palhaços. Foi aí
que decidi o que seria depois da presidência. Porque se eu continuasse como os
outros, dando palestras por aí eu ia me danar. Eu sei muito bem como funcionam
as coisas. Aí eu pedi ao Cirque de Soleil para me ensinar a ser palhaço, em
troca daria patrocínios."
“Tá.
Mas eu queria ver você falar o seu bordão.
“Que
bordão?"
“Aquele..."
Ele
afasta o maquiador de lado. Olha para o espelho levanta a cabeça com imponência
e...
“Companheiros!
Nunca antes nestepaiz....!!!!”
O
Maquiador aplaude freneticamente.
“Só
me faça um favor menino. Não me denuncie. Eu estou pagando meus pecados, não
quero ir pra cadeia."
“Não.
Tudo bem. O seu segredo esta seguro comigo. Sou um túmulo! Mas, você não sente
falta daquelas coisas de Brasília?"
“Sinto!
Claro que sinto! Todo mundo lambendo meus pés. É bom demais!"
“Porque
você não faz uma paródia de você mesmo? Afinal você é tão parecido com o ex
presidente Lula."(Deu uma piscada com um olho.
“Eu
já havia pensado nisso, mas fiquei com medo de que me reconhecessem."
“Pronto.
Terminei E aí? O que achou?"
“Você
é bom mesmo menino. Está ótimo! Você tem jeito pra coisa mesmo e nem parece
viado!"
“E
você continua o mesmo."
Neste
momento entra o dono do circo.
“Vamos
lá Lula, o circo esta lotado! Dois minutos pra entrar!"
“O
Zé! O menino aqui é bom. Dá umas pratas pra ele."
O
dono do circo mede o menino de cima a baixo.
“O
menino! Toma aqui cem pratas."
“Espera
aí! Mas o combinado eram duzentas pratas!"
“Meu
filho! Se quiser são cem pratas, se não quiser eu chamo a Monga pra intermediar
a conversa."
Monga
era o nome de um dos seguranças do circo.
“Peraí!
Eu te conheço! Você é o José Dirceu! Você ainda esta foragido!"
“Olha
aqui o seu moleque! Tá aqui trezentos paus pra você cair fora e calar o bico!
Se não a Monga vai atrás de você, viu?"
Cai o pano.